quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

pousa

Pousa um momento,
Um só momento em mim,
Não só o olhar, também o pensamento.
Que a vida tenha fim
Nesse momento!

No olhar a alma também
Olhando-me, e eu a ver
Tudo quanto de ti teu olhar tem.
A ver até esquecer
Que tu és tu também.

Só tua alma sem tu
Só o teu pensamento
E eu onde, alma sem eu. Tudo o que sou
Ficou com o momento
E o momento parou.

             Fernando Pessoa

autopsicografia

AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente. 
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

                 Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SONHOS

Como o vento nas coxilhas
Assim pulsa o coração
Para que nas noites frias
Possa estar com você meu peão

Ao seu lado fagueira
Sentados juntos ao fogo de chão
Sob um céu de lua cheia
Tomando vinho ou chimarrão

Ouvindo uma canção gaudéria
De tão linda nos tocar o coração
E assim a noite se vai faceira
Guardando consigo tanta emoção.

LUA VAGA

A lua vaga lá fora
Dentro do peito algo chora
Sentimento intenso invade e me explora
Será paixão, será amor o que me devora

Vem meu amor, vem e me diz
Que um dia você também me quis
Vem meu amor, vem e me diz
Que um dia você também foi feliz

A lua vaga lá fora
E meu corpo por você implora
Traz seu calor e amor agora
Pra que a dor possa ir embora.